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Foto do escritorTaís Fagundes

a sapatilha.

Atualizado: 6 de mar.

algumas transformações são furacões; outras tem o vento leve da brisa da água salgada. te levam de mansinho a jornadear. necessário mesmo é nunca parar de caminhar.


comprei uma sapatilha de nome bailarina. confortável e romântica. feita de couro. daquelas práticas para o dia a dia e clássica para os rolés da vida. dias depois, a entrega chegou. fiz o ritual de abrir a caixa. confesso que gosto de desembrulhar a expectativa. ao olhar, concordei comigo mesma que foi uma compra certa. experimentei. caminhei. mas depois frustrei. o calcanhar ficou machucado. sangrou. devolvi para a caixa. fiquei chateada. neguei-a um pouco. respirei. dias depois, insisti. vesti-a novamente. arrisquei mais uns passos. amaciei-a. logo, o desconforto me fez refletir. tal a natureza humana enfadada de reação, assim são as mudanças dos nossos caminhos. ora provocadas por nossa escolha de onde andar, ora advindas de força maior. elas vêm de lados distintos. opostos. similares. avassaladores. serenos. mansos. silenciosos. o fato é que elas, as mudanças, chegam. a cada dia há. seja pequena. seja um conjunto de frações. uma provocação de marcas. às vezes, nos causam pequenas cicatrizes. ficam a morar em nós. nos guiam a desconstruir para construir. algumas transformações são furacões; outras tem o vento leve da brisa da água salgada. te levam de mansinho a jornadear. necessário mesmo é nunca parar de caminhar. de tomar a ação. de decidir. de ser protagonista. fazer o couro amaciar. dar de si. fitar seu pé. insistir na sapatilha. no caminhar. depois do encaixe, o humano remoto lembrará de como era caminhar antes, sem a sapatilha. abrir-se ao novo. sem data específica para acontecer. dirigir-se ao desafio. e mais: no caminho, saudar a esperança. convidar para entrar na morada do vivo. no latente. passo por passo. rumar-se ao desconhecido. oi, novidade! pode chegar.


com amor, Taís Fagundes.

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